Morador do bairro Santo Antonio, João Pires tem 98 anos e, por duas vezes, restaurou o Chevrolet Ramona preto fabricado em 1929, que segue em exposição no Ferry Boat´s Plaza Shopping, em Guarujá

 

O morador de Guarujá, João Pires, tem 98 anos e muita história para contar. Mineiro de nascença veio para Guarujá em 1968, devido aos seus trabalhos artísticos em móveis. Residente no bairro Santo Antônio, ele contou que, por duas vezes restaurou o carro fúnebre que conduziu o corpo de Alberto Santos Dumont, o pai da aviação, falecido no Grande Hotel em Guarujá, no dia 23 de julho de 1923.

 

Semanas atrás João Pires se emocionou ao rever o automóvel que esteve sob seus cuidados por mais de 40 anos. O veículo, um Chevrolet Romona Preto, fabricado em 1929 encontra-se em exposição no Ferry Boat Plaza Shopping (Vila Lígia). “Quando sua neta, minha filha, nos contou que o carro estava nessa exposição aqui, tivemos que trazê-lo logo. Ele ficou muito feliz e emocionado. O carro é um grande patrimônio de Guarujá”, disse sua filha, Dalila Pires.

 

João Pires sempre atuou na Cidade como restaurador e decorador artístico de móveis. Seu primeiro e principal trabalho de restauração no veículo aconteceu em 1980. “Fui convidado pelo então secretário de turismo da gestão do ex-prefeito Jayme Daige, hoje falecido. Ambos conheciam bem o meu trabalho”.

 

Ao buscar em sua memória, ele disse que a primeira restauração durou mais de cinco meses e que, para o carro entrar em seu quintal, onde aconteceu a reforma, foi necessário até quebrar o muro de sua casa, na Rua Luiz Ramos, onde reside há 43 anos. “Esse carro é uma preciosidade. Sinto-me honrado em ter meu nome nele”, comenta. “Isso o enche de orgulho. Uma de suas  maiores felicidades é ver ainda no carro, até hoje, a placa que o homenageia: Restaurador J. Pires”, acrescentou Dalila.

 

Durante o processo de restauração do Chevrolet Ramona, Pires comandou o trabalho de outros profissionais como vidraceiro, tapeceiro, mecânico, marceneiro e até partes de ferragens. O carro possui portas laterais em madeira de cedro rosa. Folhas de ouro importadas foram usadas nos detalhes dos frisos ao longo do veículo e nas janelas de vidro.

 

“Os quatro captéis do capô do veículo, todos folheados a ouro, também tiveram que ser confeccionados novamente. A pintura em laca preto acetinada levou várias camadas para uma boa proteção das peças. Tudo meu serviço!, contou orgulhoso. João Pires lembra ainda que, ao chegar em suas mãos, o carro estava abandonado em uma funerária em outro município. “Chegou em casa todo destruído, carroceria quebrada, precisando mesmo de uma grande reforma”, contou.

 

Houve ainda uma segunda reforma em 2001, feita por J.Pires, que aconteceu na Garagem Municipal do Guarujá. Além disso, o restaurador teve muita vontade de excetuar uma terceira reforma no carro, no passado. Hoje, aos 98 anos, apenas fica feliz por ver e saber que o carro fúnebre ainda encanta as pessoas, pela obra de arte que representa.

 

Exposição vai até 31 de julho

O carro fúnebre é um dos destaques da exposição que acontece desde 1º de junho em homenagem a Alberto Santos Dumont, no Ferry Boat´s Plaza Shopping (Praça Nações Unidas, S/N - Vila Ligya), das 10 às 17 horas. Com base no livro: “O Sonho de Voar – 300 anos de História”, do autor Ruy Sodré, o evento reúne cerca de 20 banners contendo informações e fotos históricas, que contam desde os primeiros balões até a conquista da navegação aérea e o uso dos aviões. A realização é da Prefeitura de Guarujá, por meio da Secretaria de Turismo, em conjunto com a City Transportes.

 

Último Restauro

O Chevrolet Ramona, que ficava no Pavilhão da Maria Fumaça, na Avenida Leomil, com a Avenida Puglisi, retornou ao Guarujá em 19 de maio deste ano, após passar por um amplo processo de restauro para recondução do automóvel às condições originais. A ação aconteceu em parceria com o Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, que doou o serviço à Prefeitura.